domingo, 14 de dezembro de 2014

O QUE É POLÍTICA?

Na atual realidade brasileira, o termo política exige um esclarecimento para a maioria da sociedade que manifesta comumente a sua rejeição e desinteresse pela política. Obviamente, esta atitude de indiferença tem prejudicado sobremaneira a vida social brasileira e contribuído para o aumento dos desmandos da administração pública e, propriamente, do poder político. Neste sentido, a nossa intenção tem o condão de levar a nossos concidadãos uma reflexão sobre a realidade política nacional, com o intuito de apontar alguns elementos chaves que sirvam  de pretexto para a discussão sobre a nossa democracia.

O Brasil atravessa hoje uma fase importante de sua história política quando se coloca no cenário nacional a questão da revisão governamental do País e, sobretudo, dos novos rumos que devemos, todos nós brasileiros, ajudar a construir para o futuro das novas gerações.

Democracia e Política são noções visceralmente vinculadas que só se tornam possível quando se abre à discussão. Isto, porque, só na democracia a política pode encontrar o nicho adequado para a sua expressão. Infelizmente, hoje em dia a política sofre de um grande descrédito social e está revistida de uma carga negativa de efetividade, minada pelo egoísmo, personalismo, demagogia e puro oportunismo. É isto que em filosofia política chamamos de "despolitização da política", fenômeno que tomou conta da vida pública brasileira.

Este quadro altamente depreciativo faz com que muita gente confunda "política" com "políticos" ou "partidarismo político". Políticos, em regra, são aqueles que buscam a política como forma de enriquecimento ilícito, usando a representação política para auferir benefícios para si e sua família e personificar interesses escusos e ilegais. Enquanto que a política, em seu sentido mais amplo, é "o espaço público onde se vive a experiência da alteridade, visando congregar interesses comuns". Dizer que não gosta de política é uma ideia equivocada e ignorante e que tem uma enorme repercussão prática na vida das pessoas: "Serem governadas por quem é inferior". 

Nenhum político é salvador da Pátria. Pátria é um conceito visceralmente vinculado ao conceito de Nação. Os verdadeiros salvadores da Pátria, portanto, da Nação, é o povo, que bem informado e organizado politicamente é capaz de derrubar os corruptos e aprofundar a experiência política da democracia. O poder político em uma democracia está centrado no povo, de onde emana todo o poder de fazer-se representar por sufrágio universal (pelo voto). Neste caso, cada brasileiro traz consigo esta capacidade de ser co-governante do País e, por isso, deve recusar qualquer tipo de conduta parlamentar ou do exercício governamental que contrarie os princípios da República e enfraqueça a moral de nossa democracia, adotando medidas restritivas com relação às reeleições dos candidatos espúrios e destituindo aqueles que nos representam mal, através de movimentos sociais bem organizados e dos instrumentos legais colocados por nossa Constituição Federal ao nosso dispor. Colocar-se contra isto é, no mínimo, reforçar a podridão política em nosso País, além de ser uma atitude eminentemente antidemocrática.

O Brasil é um País que inverteu a lógica de Aristóteles, quando ele diz que: "O homem é um animal político". Aqui, no Brasil, é o político que, em sua grande maioria, vira animal". Esta inversão descaracteriza o pensamento aristotélico quando ele compara os conceitos de "Bios" e "Zoe". É no contexto do debate político que Aristóteles, em sua obra Política, parte da compreensão de que as razões que permitem aos homens constituir suas vidas em comunidade de destinos, como vida política, está na diferenciação que se faz do sentido da vida, isto é, a vida como "ZOE", designada como "mero fato de viver" e a vida como "BIOS", representada no sentido de "uma maneira de viver". Neste sentido, o homem grego com forte discernimento e clareza de espírito podia definir estas duas palavras. "ZOE" define um tipo de "vida nua", que comparte com outros seres vivos o ambiente natural. "BIOS" expressa o sentido da vida civilizada, âmbito de uma cartografia política onde podemos discutir a questão da "Boa Vida"

Aristóteles aprofunda a questão em sua obra A Ética a Nicômaco e chega a definir a "Boa Vida" como uma combinação de duas coisas: a atividade moral e intelectual. A vida política seria o resultado da combinação destas duas condições do "viver bem", que se unem para qualificar eticamente a "Boa Vida": uma vida virtuosa. Portanto, a virtude chega a ser a finalidade, por excelência, da vida política. Se, por um lado, a ética se refere à felicidade (eudaimonia) do homem individual, a política, por outro, se refere à felicidade da Pólis (cidade-Estado), cujos cidadãos têm o dever legal e moral de averiguar que tipo de governo e  instituições são capazes de assegurar a felicidade coletiva. Para isso, necessário se faz investigar a constituição do Estado e tomá-la como matriz fundadora para o saneamento da vida pública e de seus aspectos administrativo, executivo, legislativo e judiciário, no âmbito do regime republicano.

Em suma, a política não deve ser associada aos maus exemplos de alguns políticos com suas práticas nefastas à Nação e, em menor escala, ao povo (quer seja no governo, no legislativo ou nas administração pública direta e indireta). Fazer política é uma questão de intervenção cívica no trato da "coisa pública", sem perder de vista o questionamento do poder instituído. É fiscalizar, denunciar, rejeitar, indignar-se e investigar como e o porquê das decisões que os governantes e o parlamento tomam em nome do povo e estar atento e bem informado sobre os critérios e os modos como são utilizados os recursos disponíveis na sociedade. Lembrem-se desta frase escrita por Platão: 


"O preço a pagar pela tua não
participação na política é seres governado
por quem é inferior".



Afinal de contas, "nem só do pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai de sua boca."





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